Por
Valmir Lima*
Chama a atenção uma faixa entendida em um posto de combustível da
Alameda Cosme Ferreira, em Manaus, dando publicidade ao Diesel S50. Para o
posto, trata-se apenas de peça publicitária de um novo produto. Para quem sabe
o que representa o Diesel S50, no entanto, a faixa representa o atraso da
cidade símbolo do meio ambiente para a Copa do Mundo de 2014 no quesito ‘uso de
combustíveis mais limpos’.
O
Diesel S50 é combustível mais refinado e menos poluente que Petrobras
tardiamente passou a fabricar nos últimos quatro anos e que a Agência Nacional
de Petróleo (ANP), desde 2009, passou a exigir o uso, mas em apenas parte dos
municípios brasileiros. Tardiamente, porque na Europa e nos Estados Unidos o
diesel já tem um padrão de qualidade mais elevado, portanto, menos poluente. No
Brasil, a partir de 2013, mais de 700 municípios serão obrigados a
comercializar o Diesel S10, ainda menos poluente que o S50.
O
que muda, basicamente, no processo refino do diesel menos poluente é a redução
de enxofre emitodo pelos motores que o utiliza. O S50 é um combustível com teor
de enxofre máximo de 50 mg/kg. O Diesel do futuro, o S10, portanto, terá cinco
vezes menos enxofre do que o S50, que ainda nem é utilizado em Manaus. A
maioria dos postos do Amazonas, o “Estado mais verde do País”, utiliza o
pesadíssimo Diesel S1800, com teor de enxofre máximo de 1800 mg/kg. Existe no
mercado, também, o Diesel S500, com teor de 500 mg/kg.
E
por que a ANP está obrigando o uso do diesel com baixo teor de enxofre? Ora,
porque a emissão de fumaça dos veículos que utilizam diesel representa um
veneno para a saúde da população. A queima de combustíveis fósseis pelos
motores altera o ciclo natural do enxofre e afeta plantas e animais, mas é nos
seres humanos que os efeitos mais aparecem, prejudicando os pulmões e
aumentando os casos de bronquite crônica.
De
acordo com a Petrobrás (informações no site), o diesel S50 foi desenvildo para
atender à nova frota de veículos com tecnologia EGR (Recirculação de Gases de
Exaustão) e SCR (Redução Catalítica Seletiva) e permite uma redução de até 80%
da emissão de material particulado.
Em
capitais do eixo Sul/Sudeste (Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo), as frotas
cativas de ônibus são obrigadas, desde 2009, a utilizar exclusivamente o Diesel
S50. Em Manaus, a frota nova de ônibus nem veio adptada para receber o novo
combustível e nem o utliza (mesmo sem a tecnologia EGR/SCR, o veículo pode
utilizar o diesel menos poluente).
As
autoridades ambientais, neste caso, podem se agarrar às normas para justificar
o injustificável. A Resolução 42/2009 da ANP não obriga o Amazonas a utilizar
esse combustível. E é verdade. Obriga cinco municípios do Pará, mas nenhum do
Amazonas. A Resolução 65/2011 aumenta para seis os municípios do Pará obrigados
a usar exclusivamente o S50 e, a partir de janeiro de 2013, o S10, mas o
Amazonas, mais um vez está fora da lista.
A
‘cidade verde’ que concentra mais da metade da população do Estado pode e usa
um diesel 36 vezes mais polunte. E não se ouve uma voz contra. Nossas
autoridades ou não entendem nada de meio ambiente ou estão fazendo jogo sujo,
literalmente.
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Valmir
Lima é blogueiro e articulista do jornal Diário do Amazonas
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