segunda-feira, 16 de abril de 2012

JOGO SUJO, LITERALMENTE

Por Valmir Lima*



Chama a atenção uma faixa entendida em um posto de combustível da Alameda Cosme Ferreira, em Manaus, dando publicidade ao Diesel S50. Para o posto, trata-se apenas de peça publicitária de um novo produto. Para quem sabe o que representa o Diesel S50, no entanto, a faixa representa o atraso da cidade símbolo do meio ambiente para a Copa do Mundo de 2014 no quesito ‘uso de combustíveis mais limpos’.

O Diesel S50 é combustível mais refinado e menos poluente que Petrobras tardiamente passou a fabricar nos últimos quatro anos e que a Agência Nacional de Petróleo (ANP), desde 2009, passou a exigir o uso, mas em apenas parte dos municípios brasileiros. Tardiamente, porque na Europa e nos Estados Unidos o diesel já tem um padrão de qualidade mais elevado, portanto, menos poluente. No Brasil, a partir de 2013, mais de 700 municípios serão obrigados a comercializar o Diesel S10, ainda menos poluente que o S50.
O que muda, basicamente, no processo refino do diesel menos poluente é a redução de enxofre emitodo pelos motores que o utiliza. O S50 é um combustível com teor de enxofre máximo de 50 mg/kg. O Diesel do futuro, o S10, portanto, terá cinco vezes menos enxofre do que o S50, que ainda nem é utilizado em Manaus. A maioria dos postos do Amazonas, o “Estado mais verde do País”, utiliza o pesadíssimo Diesel S1800, com teor de enxofre máximo de 1800 mg/kg. Existe no mercado, também, o Diesel S500, com teor de 500 mg/kg.
E por que a ANP está obrigando o uso do diesel com baixo teor de enxofre? Ora, porque a emissão de fumaça dos veículos que utilizam diesel representa um veneno para a saúde da população. A queima de combustíveis fósseis pelos motores altera o ciclo natural do enxofre e afeta plantas e animais, mas é nos seres humanos que os efeitos mais aparecem, prejudicando os pulmões e aumentando os casos de bronquite crônica.
De acordo com a Petrobrás (informações no site), o diesel S50 foi desenvildo para atender à nova frota de veículos com tecnologia EGR (Recirculação de Gases de Exaustão) e SCR (Redução Catalítica Seletiva) e permite uma redução de até 80% da emissão de material particulado.
Em capitais do eixo Sul/Sudeste (Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo), as frotas cativas de ônibus são obrigadas, desde 2009, a utilizar exclusivamente o Diesel S50. Em Manaus, a frota nova de ônibus nem veio adptada para receber o novo combustível e nem o utliza (mesmo sem a tecnologia EGR/SCR, o veículo pode utilizar o diesel menos poluente).
As autoridades ambientais, neste caso, podem se agarrar às normas para justificar o injustificável. A Resolução 42/2009 da ANP não obriga o Amazonas a utilizar esse combustível. E é verdade. Obriga cinco municípios do Pará, mas nenhum do Amazonas. A Resolução 65/2011 aumenta para seis os municípios do Pará obrigados a usar exclusivamente o S50 e, a partir de janeiro de 2013, o S10, mas o Amazonas, mais um vez está fora da lista.
A ‘cidade verde’ que concentra mais da metade da população do Estado pode e usa um diesel 36 vezes mais polunte. E não se ouve uma voz contra. Nossas autoridades ou não entendem nada de meio ambiente ou estão fazendo jogo sujo, literalmente.

·        ·         Valmir Lima é blogueiro e articulista do jornal Diário do Amazonas

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